Esse tema faz parte do tabu sobre o puerpério. É inevitável que sempre aconteça uma crise no casal depois do nascimento de um filho. Crise é uma reação normal a um evento anormal, extraordinário na vida da pessoa. O filho é um evento extraordinário que chega balançando todas as certezas que tínhamos sobre a vida. Num espaço onde o casal construiu os seus parâmetros de vida, de convivência de um para o outro, chega esse terceiro. E, às vezes, de uma forma bem energética, com choro, noites mal dormidas, dificuldade em amamentar e etc.
Então, o que acontece com o casal no puerpério?
O casamento estremece. Em alguns momentos sente-se que está separado do parceiro. Por que isso acontece justamente quando recebemos o maior presente da vida?
Com um monte de contratempos no processo de ajuste da chegada do bebê, este chega ocupando o tempo e o espaço que antes o casal dedicava um para o outro. Além disso, acontece que os dois se transformam. Assim como você olha para o bebê querendo entender que ser é aquele que veio para você, querendo construir intimidade com ele, você vai olhar para você e para seu parceiro para descobrir em quem vocês estão se transformando. Essa é a mágica da história. Mas, por trás disso tem muito sofrimento, muita dor, muito desencontro.
O homem e a mulher têm vontade de serem mais vistos pelo parceiro. Às vezes, o bebê demanda tanta energia dessa mulher e desse homem que a sobra muito pouco para a sexualidade, para o carinho e para a tolerância.
Aos poucos os casais podem ir se ajustando. O pós-parto, não só o pós-parto imediato, mas sim pelo menos o primeiro ano de vida do bebê, é um ano de muita crise no casamento. É um ano de reencontrar-se com o outro. Puerpério é só um momento a mais que você estará se recasando com sua parceira e seu parceiro. Portanto, não é porque ele é doloroso que deve ser evitado. Pelo ao contrário. É enfrentando isso que a gente aprende a sustentar uma relação que ganha em profundidade, com a complexidade desse momento de ter um bebê dentro de casa.