Esses dias Helena chegou em casa falando “Helena feia”.
Na hora quem estava com ela era o pai que tentou entender o contexto de onde surgiu esse comentário. Se era alguém que tinha chamado ela assim ou se tentando corrigir, algum adulto tenha usado a velha expressão “que feio” ou “isso é coisa de menina feia”.
Quando meu esposo me contou o ocorrido me deu um aperto no coração. Uma sensação de não conseguir proteger minha filha de coisas que lhe machuquem. Racionalmente sei disso, mas isso não nos poupa de nos angustiarmos. No dia seguinte tentei entender de onde tinha surgido essa fala, mas não conseguimos descobrir. Já com o coração mais tranquilo fiz questão de reforçar que ela era linda, perfeita. E comecei a pensar sobre autoestima! Em como ensinar a ela do seu valor e importância sem que para isso seja necessário diminuir o outro (“feio é você”). Pensei em que na verdade essa Autoestima não seja inicialmente tão AUTO assim. Que na construção da nossa imagem estão as falas dos nossos pais, nossos primeiros cuidadores. E como é preciso ser cuidadoso para não rotular, nem pra bem nem para mal, e não jogar nossas expectativas e frustrações em cima dos nossos filhos como se fosse responsabilidade deles dar conta delas.
Autoestima perpassa por muito mais do que se sentir bem com sua aparência. Envolve nossa autonomia, nossa sensação de nos sentirmos capazes de enfrentar os desafios, as perdas, de confiarmos nas nossas escolhas. Autoestima é um caminho de autoconhecimento que nos leva a nos apropriarmos de nós mesmos.
E quantos de nós, adultos, já nos apropriamos de nós? Como tem sido nossas escolhas: baseadas em nossos valores, crenças (se é que as conhecemos) ou baseado no famoso “o que os outros vão falar”. Tanto há a aprender e a ensinar.
Texto da nossa querida psiquiatra @clarissavillaverde que tanto soma ao nosso time multidisciplinar.